Escolas padrão

Originalmente publicado na revista Infraestrutura Urbana no. 14

Conheça o modelo arquitetônico adotado pela Prefeitura do Rio de Janeiro para construção de unidades escolares com capacidade média para atender a até 400 alunos por dia

Desenvolver o projeto de edificação de uma escola capaz de abrigar novas diretrizes de educação em um município que atende mais de 750 mil alunos e cerca de 40 mil professores. Projetar soluções arquitetônicas que permitam, ao edifício, receber constantes evoluções tecnológicas, sem deixar de lado parâmetros de acessibilidade, conforto térmico e acústico adequados para o ensino.
Esses foram os principais desafios da Secretaria de Educação do município do Rio de Janeiro, em parceria com a RioUrbe, empresa ligada à Secretaria Municipal de Obras, na elaboração do projeto Escola-Padrão, modelo que desde 2002 já balizou a construção de cerca de 46 unidades escolares na capital carioca. Apenas neste ano, a Prefeitura planeja concluir a construção de 13 novas edificações pautadas por essas diretrizes. No total, a capacidade de atendimento das escolas é de 37.410 alunos em dois turnos.

Os pilares do projeto, desenvolvido pela arquiteta Teresa Rosolem de Vassimon, são modularidade e verticalização. Essa combinação permite implantar as escolas em terrenos que variam entre 2.000 m² e 3.500 m², e cuja quantidade de salas é definida em função da demanda de alunos da região e a área disponível. Flexibilidade importante a um programa público, dada a baixa oferta de terrenos que, quando encontrados nos locais que melhor atendem à rede municipal de ensino, apresentam uma topografia desfavorável para uma construção desse porte.

O modelo do Escola-Padrão define parâmetros diversos para as construções, desde as cores de cada setor da edificação a tipologias das instalações – como quadra esportiva, laboratório de ciência, de artes, salas de aula, refeitório -, incluindo variações conforme a idade das crianças (como mobiliário e instalações sanitárias adequadas aos alunos mais jovens) e implementos inclusivos como rampas, elevadores e corrimãos para acesso de estudantes com mobilidade reduzida.

As soluções técnicas aplicadas à estrutura das edificações também são pré- -especificadas, assim como os sistemas para a vedação e acabamento. A infraestrutura elétrica é igualmente padronizada e prevê pontos para instalação de televisores, computadores, retroprojetores e equipamentos de vídeo e de som em todas as salas de aula. O conforto térmico é buscado por meio de um sistema de ventilação cruzada, e a iluminação natural é garantida por cobertura translúcida.

Estrutura, vedação e acabamento
Para agilizar o processo de construção, com prazo médio de 300 dias de execução, foi adotado inicialmente o uso de estrutura metálica e, mais tarde, devido ao aumento do preço do aço, a solução técnica da estrutura foi substituída por pré-fabricado de concreto. Lajes pré-moldadas de concreto ou metálicas autoportantes, telhas termoacústica e de policarbonato completam os elementos estruturantes. A vedação é erguida in loco com alvenaria convencional de 25 cm nas paredes externas e naquelas que separam salas de aula dos corredores para garantir qualidade acústica. Esquadrias de alumínio são recuadas em relação ao exterior para permitir o posicionamento do contraventamento necessário para estrutura metálica, que, por sua vez, é coberta por brises que impedem a entrada de luz direta nas salas de aula e permite melhor circulação de ar. Para o acabamento foram definidos pisos monolíticos de alta resistência e revestimentos cerâmicos nas fachadas, circulações, refeitórios e sanitários. Eles também são empregados em parte das paredes da área de circulação. “Escolhemos materiais que se comportam melhor ao longo dos anos para reduzir gastos com manutenção e facilitar a limpeza”, afirma a arquiteta Teresa Rosolem.

Conforto e acessibilidade
Distribuído em três pavimentos para garantir a implantação de equipamentos esportivos na área externa, o edifício tem circulação vertical realizada prioritariamente por rampas cujos amplos espaços facilitam a ventilação cruzada, que reduz a temperatura interna da edificação. Para aproveitar a iluminação natural foi utilizado tijolo de vidro em parte das paredes e grandes aberturas já próximas à cobertura do pátio central. No caso da construção em locações de tamanho limitado, escadas e elevador são utilizados. Essa alternativa garante o acesso a todos os andares aos portadores de mobilidade reduzida. Piso antiderrapante com orientação tátil, placas de sinalização em braile, corrimão em diferentes alturas, box com barras de apoio e pias mais baixas foram incluídos no projeto para atender às diferentes necessidades especiais.

Bloco pedagógico
O programa do bloco pedagógico deve levar em consideração a quantidade e a faixa etária dos alunos que irão frequentar a escola. Para os alunos do ensino fundamental, o dimensionamento das salas de aula leva em consideração 1,5 m² para cada estudante. As salas projetadas para a Escola-Padrão possuem capacidade para receber 40 alunos (o Rio de Janeiro adota como limite 37 alunos por sala). As salas de ensino infantil possuem algumas diferenças para atender as crianças de menor idade. Banheiros são compartilhados a cada duas salas e possuem chuveiros para banhos. Além disso, a altura das tomadas e interruptores é elevada para evitar acidentes. Em ambos os casos é importante prever tubulação para a instalação de equipamentos multimídia, equipamento de som e projetores. A cozinha e o refeitório das escolas com maior número de salas foram projetados para oferecer mil refeições por dia e precisam atender à legislação sanitária específica, que exige o uso de materiais de fácil limpeza, como o aço inoxidável para as áreas de preparo dos alimentos e revestimento cerâmico nas paredes. Completa a estrutura administrativa, salas destinadas aos professores, administração, secretaria e em alguns casos uma pequena residência para um eventual zelador.

Outra preocupação foi a definição cromática do projeto. “As cores são elementos fundamentais para a distinção dos ambientes. Elas auxiliam as crianças a se orientarem e a lerem a arquitetura”, explica Teresa. Assim, cores primárias foram empregadas no exterior do edifício, enquanto no interior o branco predomina, para auxiliar a iluminação, com exceção de alguns elementos como portas e batentes que ganharam cores mais alegres que auxiliam na identificação dos setores da escola.

Áreas externas
Não menos importantes no processo pedagógico, as áreas externas e de lazer possuem quadra de esporte coberta com vestiário. A construção nestes espaços é menos complexa, porém requer alguns cuidados. A altura mínima da cobertura deve ser de 7 m para garantir a prática de esportes como vôlei e basquete. Jardins e parque de recreação completam a estrutura de lazer que garante mais interação entre as crianças. É importante que os brinquedos sejam adequados à idade dos alunos – do ensino fundamental ou infantil.

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