Orçamento de sinalização viária

Originalmente publicada na revista Infraestrutura Urbana no. 15

Os preços regionais e as premissas para elaboração de projeto de sinalização de trânsito com pintura mecanizada

Projetos de sinalização viária são orientados por um conjunto de normas e regulamentos que têm o objetivo de garantir a segurança e fluidez do trânsito. É composto por três subsistemas – sinalização vertical, horizontal e semafórica – que devem seguir, segundo o Código de Trânsito Brasileiro, os princípios da:

● clareza;
● precisão e confiabilidade;
● legalidade;
● padronização (situações iguais devem ser sinalizadas com os mesmos critérios);
● suficiência (quantidade de sinalização compatível com a necessidade);
● visibilidade e legibilidade (em tempo hábil para a tomada de decisão);
● e manutenção e conservação.

Cabe ao projetista de sinalização de trânsito encontrar a melhor maneira de adequar esses princípios às sinalizações dirigidas aos usuários (motoristas, motociclistas, ciclistas, pedestres), quanto ao que existe na via. “A principal tarefa é adequar as exigências à realidade do local”, afirma o diretor da SC Engenharia, Pedro Soethe, engenheiro civil especializado em engenharia urbana.

O primeiro passo é saber quais são as características da via que será sinalizada. As principais distinções são quanto a sua inserção (em área urbana ou rural), sua hierarquia (expressa ou local) e volume diário médio de tráfego (VDM). Estas informações certamente já foram utilizadas no projeto de construção para o dimensionamento do pavimento.

A etapa seguinte é realizar um minucioso levantamento topográfico, com a locação exata dos postes de iluminação, vegetação e equipamentos urbanos existentes, alinhamento predial, identificação de guias, permissões de estacionamento etc. “Quanto mais preciso for este levantamento, menos problemas serão encontrados no momento da execução,” explica Soethe.

Sinalização vertical
A sinalização vertical se utiliza de sinais em placas fixadas ao lado da via ou suspensas a ela, e que são classificadas segundo sua função: de regulamentação, advertência e indicação. Cada uma delas possui características distintas quanto à cor e formato adotado. O posicionamento das placas segue um padrão bem específico quanto ao tamanho, altura de fixação em relação ao solo e ângulo de visão, desenvolvido pela Câmara Temática de Engenharia de Tráfego de Sinalização e da Via, órgão de assessoramento ao Conselho Nacional de Trânsito (Contran). A quantidade de placas e as distâncias entre elas deve levar em consideração a velocidade de percepção, principalmente dos condutores de veículos a motor, para que exista tempo hábil para as tomadas de decisões.

Esse tempo de reação é obtido a partir de formula matemática, que leva em consideração a velocidade inicial (Vo), a velocidade final (Vf), distância de percepção, reação e de frenagem, e a distância de reserva – uma margem de segurança a ser adotada pelo técnico, com o objetivo de garantir que o condutor efetivamente cumpra a sinalização.

As placas podem ser fabricadas de diversos materiais, sendo os mais utilizados: o aço, alumínio, plástico reforçado e madeira imunizada. Os sinais serão gravados utilizando-se de tintas (esmalte sintético, fosco ou semifosco ou pintura eletrostática) ou películas (de esferas inclusas, de esferas encapsuladas ou de lentes prismáticas). É possível fabricá-las em outros materiais, desde que possuam as mesmas características físicas.

A fixação deve ser feita em postes capazes de suportar as cargas próprias das placas e mantê-las na posição apropriada, evitando que elas sejam facilmente retiradas. Boas aplicações também devem garantir que as placas resistam à ação do vento e chuva. Não existe uma determinação formal se esses postes devem ser exclusivos para as placas; é comum em alguns lugares encontrá-las fixadas no mesmo poste utilizado para a iluminação pública. O seu posicionamento deve se ater também a possíveis interferências como o crescimento da vegetação e fios elétricos. Nesses casos o projeto pode prever a remoção ou substituição de alguns destes elementos existentes.

Sinalização Horizontal
A pintura do solo funciona como um complemento da sinalização vertical, visando enfatizar a mensagem que o sinal transmite. Com ela é possível ordenar e canalizar o fluxo de veículos, seu deslocamento em função das condições físicas da via – como, geometria, topografia e obstáculos – e orientar o fluxo de pedestres.
Elas são classificadas como marcas longitudinais (separam e ordenam as correntes de tráfego), transversais (ordenam os deslocamentos frontais dos veículos e disciplinam os deslocamentos de pedestres), canalização (orientam os fluxos), delimitação (controle de parada e estacionamento) e inscrições no pavimento (melhoram a percepção do condutor quanto às características de utilização da via).

Suas formas são separadas em contínua (linhas sem interrupção, aplicadas em trecho específico de pista), tracejada ou seccionada (linhas interrompidas, aplicadas em cadência, com espaçamentos uniformes em relação ao traço) e setas, símbolos e legendas (indicando uma situação ou complementando a sinalização vertical existente). Cada uma delas é inscrita em cores ou características específicas. Os comprimentos, espessuras e largura entre a sinalização são determinados pela velocidade em que os veículos irão trafegar.

Assim como a sinalização vertical, existem diferentes materiais utilizados na pintura de sinalização e a opção por cada um deles deve levar em consideração o desgaste e consequentemente a sua manutenção. Os principais são o termoplástico e laminados elastoplástico – ideais para faixas de pedestres, legendas e zebrados em vias urbanas e rodovias de alto volume de tráfego – e a pintura (acrílica ou à base de água), utilizada principalmente em marcas longitudinais.

Independentemente do material escolhido, a pintura de solo deve possuir característica abrasiva, para evitar derrapagens dos veículos e escorregões dos pedestres e serem reflexivas, para facilitar sua visibilidade nos períodos de baixa visibilidade (noite, fortes chuvas e neblina). Neste caso, após a pintura é aplicada uma camada de microesferas de vidro que irão refletir as luzes dos faróis e da via. Esse componente muitas vezes também é adicionado à composição da tinta, para garantir a refletividade após desgaste da pintura.

A infraestrutura e os usuários
Outro fator que deve ser levado em consideração no momento de projetar as sinalizações de trânsito é o uso que a população faz daquela via. “Não é sempre que podemos usar a mesma solução de projeto”, afirma Carlos Eduardo da Silva Tross, gerente de projetos da Companhia de Engenharia de Tráfego de Santos (CET-Santos). “Ao longo de uma via, cruzamentos com a mesma característica física exigem tratamentos distintos.”

Em geral, os projetos de sinalização devem sempre privilegiar a segurança em detrimento da fluidez. Buscar alternativas de sinalizações podem ser a solução para fazer com que ambas sejam solucionadas. No caso do município paulista, a equipe de projetos da CET-Santos substituiu as placas de “Pare” de alguns cruzamentos por minirrotatórias com a sinalização de “Dê a Preferência”. Essa alteração em alguns cruzamentos de vias de menor tráfego, mas com índices constantes de acidentes, conseguiu atingir o objetivo: “reduzimos em quase 80% o número de colisões e atropelamentos”, comemora Tross.

Materiais e equipamentos
A escolha do material mais apropriado para cada situação deve considerar principalmente os seguintes fatores: natureza do projeto (provisório ou permanente), volume e classificação do tráfego (VDM), qualidade e vida útil do pavimento e frequência de manutenção. Especialistas atentam para o risco de se especificar materiais apenas sob o ponto de vista do custo, desconsiderando a vida útil do produto utilizado.

Outro fator que algumas vezes é levado em consideração na definição do material é o tempo de interdição das vias. Materiais que são aplicados em processos a quente precisam de mais tempo, às vezes dias, para uma fixação adequada. Em vias que não podem permanecer muito tempo fechadas, faz-se a opção pela aplicação mais rápida.

O método de aplicação também pode variar dependendo das condições de trabalho e qual das sinalizações está sendo realizada.
Existe a pintura manual (utilizada na pintura de faixas de pedestres, zebramentos e inscrições) e a mecânica (utilizado nas pinturas de faixas longitudinais). Para fazer a pintura manual, é utilizado um compressor de ar com uma pistola para aplicação e gabaritos de medidas e inscrições. O transporte deste equipamento é simples e não precisa de caminhões muito pesados.

Já o método mecânico é utilizado em larga escala para a pintura de linhas, que exigem maior precisão e continuidade no trabalho, é muito difícil traçar grandes distâncias no método manual. Porém, é preciso tomar alguns cuidado, já que os equipamentos mecânicos precisam estar muito bem calibrados para garantir a espessura e dosagem certa de tinta e material reflexivo.

Orçamento
O projeto de sinalização viária apresentado como referência para esta reportagem – e elaborado pela SC Engenharia, sob coordenação de Pedro Soethe – foi a base para a planilha orçamentária a seguir. Além de levantar valores de mão de obra e de materiais aplicados na sinalização horizontal e vertical de vias urbanas, o orçamento analítico detalha o custo da hora produtiva de máquinas na pintura e no corte das chapas de sinalização, uma vez que as placas são fabricadas sob medida para cada projeto. A tabela foi elaborada pelo departamento de engenharia da Editora Pini, com base nas composições do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

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