Arquiteto autônomo: como trabalhar

publicado originalmente na revista Au edição no. 220

Maior flexibilidade de horários e possibilidade de seguir suas próprias regras na execução de tarefas – e não a de um chefe imediato – são algumas das vantagens quando se opta por trabalhar como autônomo. Por outro lado, se o profissional quer benefícios de um CLT, como férias, 13º e futura aposentadoria, deve apostar na disciplina. E precisa também saber gerenciar pessoas, controlar finanças e fazer a prospecção de clientes.

“O arquiteto autônomo precisa ter um trabalho pronto para mostrar. Com o primeiro trabalho concluído os clientes aparecem por indicações”, explica Luciana Sobral, que atua como autônoma desde que se formou pela FAU-Mackenzie em 2000. Presente em todas as fases de produção do edifício, do projeto ao acompanhamento de obra, incluindo a negociação com clientes e fornecedores, a arquiteta conta que o autônomo muitas vezes se desdobra para executar todas as tarefas necessárias e ainda estar disponível para novos trabalhos.

Aprimoramento profissional
No começo de sua carreira, o arquiteto Yuri Vital se dedicava aos poucos projetos que tinha enquanto estagiava em grandes escritórios de arquitetura como o Vigliecca Associados, Carlos Bratke e Aflalo & Gasperini Arquitetos. “Eu sabia que precisava ganhar fôlego financeiro para poder me manter por pelo menos um ano. Fazia horas extras para ganhar um pouco mais e só depois das dez horas da noite conseguia trabalhar nos meus projetos.”
Além da experiência nas empresas, fez cursos técnicos para se capacitar a planejar bem os prazos de execução e a lidar com fornecedores sobre custos. “O que aprendemos sobre obra na faculdade é superficial. Por isso, enquanto amigos meus foram fazer mestrado, resolvi fazer um curso de mestre de obras no Senai”, diz Yuri. Hoje, com sete projetos em andamento e cinco em fase de estudos, o arquiteto deixou de ser autônomo para montar um escritório próprio com colaboradores e gastos fixos mais altos.

Vantagens e privações
Thais Frota escolheu outra maneira de trabalhar como autônoma: a especialização. Desde 2005, presta consultoria para escritórios de arquitetura e projetistas de equipamentos no tema acessibilidade, no qual se aprimora por meio de eventos, seminários e cursos. “Se estivesse trabalhando fixa em algum lugar não conseguiria me desenvolver como faço hoje” diz Thais.

Não raro, profissionais liberais, sobretudo aqueles que estão no começo e não se fixaram no mercado, costumam abrir mão de fins de semana e feriados. “Só depois de alguns anos é que você começa a entender as demandas do mercado e se programar financeiramente para os períodos de poucos clientes ou para se dedicar a sua vida pessoal,” afirma Thais.

Ordem e método
Thais evita contrair dívidas e costuma reservar parte do que ganha em cada trabalho em uma poupança voltada para investimentos ou gastos extras. “Separo 30% do que ganho para melhoria do meu trabalho, para comprar novas ferramentas, computadores, participar de cursos e tirar férias”, diz a arquiteta.

Mais do que disciplina financeira, o autônomo precisa de organização para conciliar a vida profissional com a pessoal. Mãe de dois filhos, Luciana conseguiu diminuir o ritmo de trabalho e, quando foi necessário, dedicar-se com exclusividade à família. “Consegui me planejar para ficar alguns meses sem trabalhar logo depois do nascimento dos meus filhos. Hoje trabalho apenas no período da tarde.”

Parcerias
Quando a carga de trabalho se torna excessiva, Luciana Sobral costuma contar com a ajuda de colegas. “Fazemos parcerias pontuais ou mais duradoras para suportar a carga de trabalho, convidando um colega a participar de algumas etapas do projeto”, explica a arquiteta.

Utilizando o Recibo de Pagamento a Autônomo (RPA), autônomos costumam contratar outros arquitetos para desenvolver algum trabalho específico, como elaboração de projetos executivos ou acompanhamento de obras. Se o serviço envolver o contato entre este profissional e o cliente, no caso de visitas a obra, por exemplo, é importante deixar bem clara a relação de responsabilidade e hierarquia previamente. “Apresento para o cliente o arquiteto parceiro que irá executar parte das tarefas ou algum projeto complementar. Mas como o contratado pelo cliente sou eu, assumo a responsabilidade e a supervisão do trabalho executado”, acrescenta Luciana.

Empresa: Ter ou não ter
A gestão de negócios e o modelo de empresas podem variar. Existem duas opções: o arquiteto pode abrir uma empresa ou optar pelo registro como autônomo junto à prefeitura. Em ambos os casos, o profissional está sujeito a recolhimento de impostos e ao INSS.
Ao optar pela empresa o arquiteto deverá declarar Imposto de Renda tanto da empresa quanto da pessoa física, baseado nos valores dos honorários recebidos. Normalmente quem opta por este modelo pretende diversificar o trabalho executado e investir em infraestrutura, como aquisição de computadores, veículos etc. Assim fica mais fácil diferenciar os gastos pessoais dos relacionados ao trabalho.

Aqueles que optam pelo registro autônomo possuem a parte burocrática um pouco mais simplificada, necessitando declarar apenas seu próprio imposto de renda, pagar mensalmente os tributos de imposto sobre serviços (ISS) para a prefeitura em que desenvolve suas atividades (um arquiteto deve recolher para a prefeitura onde tem escritório e não onde mora) e a contribuição do INSS.

Conseguir clientes
Além de participar ativamente de redes sociais, Thais tem um blog com informações sobre arquitetura acessível. “As pessoas me mandavam seus projetos e pediam para eu avaliar se estavam compatíveis com as normas de acessibilidade”, diz a arquiteta, que conseguiu clientes a partir destes contatos. “Hoje sou consultora de uma empresa que anuncia em meu blog”, acrescenta.

Já Yuri acredita que a boa arquitetura é a melhor maneira de se promover e de ganhar dinheiro. “Sempre procuro aceitar projetos onde posso aplicar aquilo que aprendi. Às vezes abro mão de um retorno financeiro para me dedicar a trabalhos onde posso me desenvolver e criar uma identidade,” finaliza.

Ser autônomo

  • Alimente periodicamente uma reserva no banco para conseguir se manter em momentos de crise
  • O ideal é ter no fundo uma quantia suficiente para bancar seis meses de contas fixas como aluguel e telefone
  • A reserva também pode ser usada para investir em cursos, novos equipamentos e softwares
  • Aprenda a gerenciar pessoas e controlar finanças, nem que tenha de fazer cursos para isso. Se não consegue cuidar da contabilidade, terceirize-a
  • Lembre-se: dinheiro profissional não é dinheiro pessoal

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *